"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela."
Introdução ao Prólogo de João
O Evangelho de João difere dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) por sua profundidade teológica e ênfase na divindade de Cristo. O prólogo (João 1:1-18) serve como uma introdução não apenas ao evangelho, mas ao conceito cristológico central: Jesus, o Verbo encarnado, é o Filho de Deus e fonte de toda a vida.
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus." (v.1)
"No princípio" (Ἐν ἀρχῇ): Essa expressão é similar a Gênesis 1:1, deixando claro que o "Verbo" (λόγος, logos) já existia antes da criação do mundo. Assim, João aponta para a preexistência de Cristo.
"Verbo" (λόγος, logos): No pensamento judaico, o logos poderia referir-se à PALAVRA criativa de Deus (cf. Salmo 33:6), enquanto no pensamento grego, especialmente na filosofia estóica, o logos era visto como a razão divina que permeava o cosmos (universo). João combina essas ideias, revelando que Jesus é tanto a revelação de Deus quanto o agente da criação.
"e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus": Distingue o logos de Deus Pai ("estava com Deus"), mas também afirma sua divindade plena ("era Deus"). Há aqui uma clara afirmação da Trindade, uma vez que o Verbo é apresentado como distinto do Pai, mas essencialmente um com Ele.
"Ele estava no princípio com Deus." (v.2)
"Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez." (v.3)
"Todas as coisas" (πάντα): Refere-se à totalidade da criação, tanto visível quanto invisível. Esse trecho destaca o papel de Cristo como agente da criação.
"foram feitas por intermédio dele" (δι' αὐτοῦ ἐγένετο): O uso de "por intermédio dele" (δι' αὐτοῦ) confirma que Cristo não é apenas participante, mas o mediador da criação. Isso corresponde ao que Paulo escreve em Colossenses 1:16-17, onde Cristo é apresentado como aquele em quem "foram criadas todas as coisas".
"sem ele, nada do que foi feito se fez" (χωρὶς αὐτοῦ ἐγένετο οὐδὲ ἕν): Isso exclui a possibilidade de que qualquer coisa no universo tenha sido criada sem a agência de Cristo, reafirmando sua soberania.
"A vida estava nele e a vida era a luz dos homens." (v.4)
"A vida estava nele" (ἐν αὐτῷ ζωὴ ἦν): A vida (ζωή, zoe) aqui não é apenas física, mas espiritual e eterna, uma vida que só pode ser encontrada em Cristo. Isso reflete a criação do homem em Gênesis, onde a vida foi dada pelo sopro divino.
"e a vida era a luz dos homens" (καὶ ἡ ζωὴ ἦν τὸ φῶς τῶν ἀνθρώπων): A "luz" (φῶς, phos) simboliza o conhecimento, a verdade e a revelação divina. Esta luz revela Deus aos homens e oferece orientação e salvação. A luz como revelação e salvação aparece em várias partes das Escrituras, como em Isaías 9:2 e João 8:12.
"A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela." (v.5)
"A luz resplandece nas trevas" (τὸ φῶς ἐν τῇ σκοτίᾳ φαίνει): A imagem da luz que brilha nas trevas é uma metáfora comum na literatura bíblica, representando a vitória do bem sobre o mal, da verdade sobre o erro. A luz de Cristo brilha nas trevas do pecado e da ignorância.
"as trevas não prevaleceram contra ela" (καὶ ἡ σκοτία αὐτὸ οὐ κατέλαβεν): A palavra "prevaleceram" (κατέλαβεν) pode ser interpretada como "compreenderam" ou "sobrepujaram". Independentemente da tradução, a ideia é que as trevas, representando o mal e a incredulidade, não conseguiram suprimir ou entender plenamente a luz de Cristo.